Como a grande seletividade imposta pelas famílias interessadas e a burocracia judiciária afetaria no processo adotivo?
A adoção é praticada desde os
tempos mais remotos, há vários milênios atrás, e foi, possivelmente, o método
mais antigo de garantir a continuidade da família
e dar uma nova chance para aqueles que, por um fado do destino, tornaram-se
órfãos.
Contudo, naquela época, não
havia qualquer preocupação com os laços afetivos e as futuras relações entre
adotante e adotado. Algo que, com o passar do tempo, sofreu intensa mudança, até
os dias atuais, onde os processos de adoção se tornaram cada vez mais
burocráticos.
Neste
contexto, adotar remete ao ato de aceitar, acolher, assumir e tomar por filho,
mediante decisão legal, uma criança que não foi gerada biologicamente. E
durante vários anos, essa têm sido uma possibilidade para diferentes casais
incapazes de conceber uma criança. Ainda assim, esse tema continua gerando
preconceitos e desconhecimento em relação ao sistema...
Estima-se
que, no Brasil, cerca de 5,6 mil crianças e adolescentes estão à espera de um
novo lar. Por outro lado, cerca de 33 mil famílias estão cadastradas na fila de
adoção. Ou seja, para cada criança apta para se adotar, existe cerca de 6
adotantes que poderiam ser seus pais. Sendo assim, por que o elevado número de
crianças e adolescentes nos abrigos não para de crescer?
O ESTIGMA DOS CANDIDATOS A PAIS
O fato é que
a grande maioria das famílias deseja adotar somente mediante algumas
características seletas:
- A idade seria o fator principal, geralmente procura-se crianças com no máximo três anos de idade.
- A etnia também é algo influenciável, dado que, a cor de pele clara é a mais desejada entre as famílias.
POR QUE A IDADE É DETERMINANTE?
A seleta
escolha pela idade envolve uma série de fatores. Grande parte das crianças acima dos seis anos que chegam aos abrigos tiveram um histórico marcado por
maus tratos, abusos, violência, entre outros, e isso gera uma série de
consequências físicas e emocionais, a curto e longo prazo. Sendo assim, tais
crianças precisarão de acompanhamento psicológico, e podem apresentar lesões
físicas e comportamento violento ou depressivo, além de outros problemas.
Com
uma idade já elevada, as lembranças ainda estarão nítidas, o que faz com que
muitos pais rejeitem crianças consideradas “problemáticas”.
A preferência pelos menores também se
explica, em parte, pelo desejo de ter uma experiência completa com o filho:
observar os primeiros passos, ensinar as primeiras palavras, trocar fraldas, ou
seja, ter a oportunidade de passar por todas as experiências de pais
biológicos.
POR QUE A ETNIA É DETERMINANTE?
Isso ocorre porque os adotantes, que na maioria pertencem à elite, buscam as crianças que sejam o mais semelhante a eles possível. De fato, esse fator não deveria ser decisivo, pois não é válido julgar uma criança pela cor de sua pele, pois, com o passar do tempo, os laços afetivos tornariam pais e filhos inteiramente próximos, sem importar a feição, mas sim o amor.
Infelizmente,
enquanto muitos pais aguardam anos para adotar uma criança com determinadas
características, existem milhares de meninas e meninos esperando por um lar e
necessitando de amor
As razões
para se adotar devem focar no desejo de transformar uma criança – que não
possui qualquer filiação genética - em filha. Outro ponto essencial é a
existência da solidariedade, visto que, a adoção remete ao abandono e em
diversos momentos da vida podem surgir questões importunas, inseguranças e
angústias em relação á sua origem.
Uma possível
solução para extinguir critérios exigidos pelos adotantes seria campanhas de
conscientização, ensinando que julgar uma criança pelas suas características
físicas ou idade, é absolutamente errôneo e uma postura inadequada. Além disso,
o governo deveria investir no tratamento de crianças emocionalmente abaladas.
No entanto, deverá haver, acima de tudo, a percepção pessoal para evitar
esse tipo de comportamento, que pode prejudicar tanto os pais quanto às
crianças, já que ambos esperam durante anos por um pouco de amor.
A BUROCRACIA
A Burocracia também é outra inimiga deste processo. A criança
entra no sistema apta para adoção e, devido à exagerada demora em todas as
etapas, atinge uma idade mais elevada, na qual os estigmas impostos pelas
famílias impedem a continuidade da ação judicial.
![Adoção (Foto: Arte/G1)](https://s2.glbimg.com/kPsKdkf21WpfoZcyDO-nE6A-UEY=/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2015/06/26/brurocracia-prejudica-adocao.jpg)
Um dos maiores problemas se encontram no processo de
destituição, em que a criança só pode ser adotada se o vínculo com os pais
biológicos for desfeito. Com isso, enfrenta-se uma série de obstáculos, entre elas, a árdua busca deste familiar.
Nesse cenário, encontramo-nos em dois lados: é essencial
que haja uma análise precisa dos casos, levando certo quantidade de tempo para
tal tarefa. Isso se dá, principalmente, ao histórico familiar dessas crianças, que devem ser preservadas de situações minimamente parecidas com as anteriores. Além do preparo emocional que devem ser submetidos os futuros pais, chamado de "gestação psíquica".
Porém, essa demora é incrivelmente exagerada e ultrapassa o bom
senso, comprovados nos dados acima.
Abaixo, encontramos todos as etapas encontradas pelos interessados pela adoção.
Em síntese, deve-se
admitir que a adoção vai muito além da caridade e afeto, e deve ser
considerada, primeiramente, um ato racional. Devemos nos conscientizar que não
é ter o mesmo sangue nem os mesmos genes que vão garantir amor e felicidade na
relação. Todo amor é conquistado e todos os pais, tanto adotivo quanto
biológicos, devem adotar seus filhos.
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